Alguns exames devem ser recorrentes, mas é importante evitar excessos e focar na prevenção, dizem médicos. A realização de exames deve estar de acordo com necessidades do paciente e orientação do médico de confiança.
Fazer um check-up médico genérico é uma resolução comum na vida das pessoas quando tem início um novo ano — no Brasil, se brinca que tudo começa de fato depois do Carnaval. Então, essa é a hora de procurar um médico mesmo quando não se sente nada, para saber se algum problema está passando despercebido.
Um outro grupo usa o check-up como a chance de colocar em dia algum assunto médico que gera preocupação – do medo de ter contraído alguma doença sexualmente transmissível, como o HIV, a uma dor que pode ser associada a algum tipo de câncer, por exemplo.
As duas situações alertam para o fato de que, sempre que uma pessoa comparece ao consultório pedindo um check-up, o médico deve questionar esse desejo, as suas prováveis motivações e também detalhar ao paciente os possíveis riscos inerentes a determinados exames e o alcance dos diagnósticos.
Foco no que interessa
Com uma medicina que preza cada vez mais pelo caráter preventivos, os pacientes devem ser despertados para comportamentos e hábitos que podem ser alterados para diminuir o risco de doenças evitáveis e não-transmissíveis, grandes causas de mortes no Brasil.
Isso, é claro, deve ser associado a rastreamentos verdadeiramente importantes, e não às baterias amplas de exames e aos “pacotes fechados” de check-up pré-definidos, que não levam em conta a individualidade do paciente.
As doenças crônicas não-transmissíveis são as principais causas de mortalidade e invalidez precoce no mundo, representando 63% de todas as causas de morte, com o agravante de acometer as pessoas em seus anos mais produtivos.
Por este motivo doenças cardiovasculares, respiratórias, do aparelho digestivo e demência podem e devem ser o principal foco das atitudes preventivas e também de exames, quando bem indicados.
Os exames mais comuns
Alguns exames podem servir para toda e qualquer pessoa, mas com alguma indicação.
Os mais universais, segundo o médico da família Antônio Modesto, membro da Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade (SBMFC), incluem medida de pressão arterial anualmente a partir dos 18 anos; sorologia para HIV, sífilis e hepatites para pessoas que já tiveram relações desprotegidas; Papanicolau a cada três anos para mulheres com idades a partir de 25 anos e mamografia a cada dois anos para mulheres a partir dos 50 anos (a indicação da mamografia tem sido recentemente questionada).
Outras ações preventivas genéricas incluem vacinas para crianças, adolescentes e adultos, além de aconselhamentos básicos, como não fumar e usar preservativos em relações sexuais.
Rastreamento para cada área
Confira quais são os exames mais indicados para cada patologia; lembrando que os diagnósticos são realizados após orientação médica e que é importante focar nas atitudes preventivas:
Demência
Alguns casos de demência, como as causadas por distúrbios hormonais, por deficiência de vitaminas e por determinados tipos de tumores, são altamente tratáveis. No entanto, a mais conhecida entre elas, a Doença de Alzheimer, afeta quase um milhão de brasileiros – e tem como principal sintoma a perda de memória. Em estágios mais avançados, há limitações físicas que comprometem a capacidade de andar e até mesmo de engolir, além de características depressivas, de agitação e de agressividade, delírios e alucinações.
Não apenas o Alzheimer, mas também outros tipos de demência, se beneficiam da prevenção, como: atividade física apropriada para idade; alimentação balanceada e voltada para ingredientes naturais (alimentos ricos em ômega 3 têm boa indicação); prevenção de fatores de risco vascular como o controle de diabetes e hipertensão; não fumar e não abusar do álcool ao longo da vida; exercitar a atividade intelectual e preservar as relações sociais e familiares.
Exames indicados: De sangue e imagem (tomografia ou ressonância magnética), avaliação neuropsicológica e computadorizada da memória. Infelizmente, não existe um exame único que garanta a segurança total do diagnóstico.
Quem deve fazer: Muitos neurologistas defendem uma avaliação das funções neurológicas para pessoas com 50 anos ou mais, ou na presença de diminuição da memória e funções cognitivas que passem a impedir atividades habituais. Antes dessa idade ou na ausência de sinais, dificilmente uma pessoa passará pelo rastreio.
Câncer
Exige medidas simples e modificáveis que devem fazer parte do cotidiano, independentemente da idade, etnia ou história familiar. Em tempo: o mecanismo de surgimento do câncer é complexo e particular. As medidas têm caráter universal e comprovadamente atuam na redução da incidência da doença, mas há outros fatores que determinam seu surgimento em cada indivíduo. Conheça as principais delas para alguns dos tipos mais evitáveis de câncer:
Pulmão, brônquios, traqueia, cavidade oral, laringe, faringe e esôfago
Não fumar. Essa é a regra mais importante para prevenir esses tipos de câncer. Ao fumar, são liberadas mais de 4.700 substâncias tóxicas e cancerígenas que são inaladas por fumantes e não fumantes.
Exames indicados: ausculta pulmonar, tomografia computadorizada (TC) de baixa dose de radiação e radiografia do tórax.
Quem deve fazer: quem largou o cigarro há menos de 15 anos, mesmo que assintomático, deve fazer acompanhamentos anuais, especialmente se já passou dos 50 anos e tem histórico de câncer de pulmão na família. O rastreamento anual também é sugerido para pacientes que cumprem as seguintes condições: se fumou um maço ao dia por 30 anos, dois maços ao dia por 15 anos ou um maço e meio por dia durante 20 anos. Para os ainda fumantes, a TC de rastreamento também é indicada, mas a recomendação imediata é abandonar o tabagismo.
Cólon e reto
Os fatores de risco para câncer de cólon e reto mais conhecidos e modificáveis são dieta (que deve ser pobre em álcool e gordura animal e rica em cálcio, folatos, fibras e vegetais – esse é o maior fator de proteção desse tipo de câncer); estilo de vida (sedentários têm maior probabilidade de desenvolver a doença); fumo; uso de anti-inflamatórios não-esteroides; e pólipos intestinais (a remoção de pólipos ou lesões suspeitas diminui as possibilidades de ter esse tipo de câncer, uma vez que muitos dos tumores se iniciam nessas lesões).
Exames indicados: colonoscopia, retosigmoidoscopia e enema opaco.
Quem deve fazer: pessoas que já passaram dos 50 anos têm a recomendação da realização anual da colonoscopia.
Mama e colo do útero (cervical)
A amamentação exclusiva até os seis meses de vida do bebê protege as mães contra o câncer de mama e as crianças contra a obesidade infantil. Além disso, os fatores modificáveis (nutrição e atividade física) reduzem em até 28% o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama.
É importante lembrar que a maior parte dos casos de câncer de mama não está ligada à história familiar. Para evitar o câncer do colo do útero, também conhecido como câncer cervical – o segundo mais comum entre as mulheres –, recomenda-se a vacinação contra o HPV (Vírus do papiloma humano, responsável pela infecção que origina esse tipo de câncer). O uso de preservativo em relações sexuais também ajuda a evitar a transmissão do vírus.
Exames indicados: autoexame das mamas, mamografia e ultrassonografia das mamas (em caso de mamas densas, que prejudicam a visualização da estrutura mamária na mamografia) para o câncer de mama e Papanicolau (preventivo) para o câncer do colo do útero.
Quem deve fazer: mulheres após os 40 anos e a cada dois anos por mulheres com idades entre 50 e 69 anos. Casos especiais, que envolvem história familiar, são discutidos individualmente. O Papanicolau (preventivo) deve ser realizado uma vez ao ano, por mulheres que já tiveram ou têm atividade sexual e, após dois resultados consecutivos negativos, a cada três anos, até os 64 anos.
Estômago
A alimentação deve ser variada, equilibrada e rica em legumes, verduras, cereais integrais e feijões, que são os principais alimentos protetores. Evitar alimentos defumados, carnes salgadas e conservas também é importante. O consumo de álcool, em qualquer quantidade, contribui para o risco de desenvolver câncer.
Exames indicados: endoscopia digestiva alta e exame radiológico contrastado do estômago.
Quem deve fazer: os exames podem ser solicitados para pacientes com fatores de risco ou quando sinais e sintomas sugerirem a presença da doença.
Doenças cardiovasculares
Principal causa de morte em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes por doenças relacionadas ao coração ultrapassam as 17 milhões por ano. As doenças cardiovasculares tornam a avaliação cardiológica obrigatória para quem já faz parte do grupo de risco (colesterol alto, doenças hipertensivas, diabete e história de infarto).
>>> Por que muitas pessoas que sofrem ataque cardíaco têm poucos fatores de risco?
Abandonar o cigarro, trocar o elevador por escadas, caminhar mais, fazer exercícios físicos com regularidade, comer mais frutas e vegetais e evitar excessos em carboidratos e doces são algumas das medidas de prevenção.
Exames indicados: aferição da pressão, ausculta do coração e dos pulsos, verificação de inchaços e edemas nas extremidades, eletrocardiograma (que detecta arritmias e bloqueios cardíacos e avalia a frequência do coração), teste ergométrico (indica se o paciente pode começar, manter ou aumentar a intensidade de determinada atividade física, além de detectar artérias obstruídas e fornecer informações sobre o comportamento da pressão arterial e do ritmo cardíaco durante o esforço) e ecocardiograma (uma espécie de ultrassom que fornece informações sobre a morfologia do coração, falhas nas válvulas e dificuldade de passagem do sangue em razão de estenoses).
Exames de sangue também ajudam a determinar a saúde do coração. Os principais são perfil lipídico (colesterol total, HDL, LDL e triglicerídios), glicemia (que mede a quantidade de glicose no sangue), creatinina (avalia a saúde dos rins, que são órgãos intrinsicamente ligados ao coração), ácido úrico e, em casos especiais, enzimas hepáticas.
Quem deve fazer: não existe um consenso sobre a idade ideal. Alguns cardiologistas defendem que deve começar aos 30 anos. Outros, se não houver história familiar, aos 50. Independentemente da idade, é preciso sempre levar em conta os sinais de que algo não vai bem (desconforto na região torácica, falta de ar, pulso acelerado ou irregular, entre outros indicativos).
Doenças respiratórias
A pneumonia, normalmente, é uma das mais graves e recomendações simples são eficazes para prevenção: lavar as mãos frequentemente, não fumar, não beber em excesso, evitar aglomerações e estar com a vacinação em dia.
Vacinas para a pneumonia pneumocócica não previnem todos os casos, mas podem evitar as formas mais graves. São candidatos à imunização gestantes, mulheres com até 45 dias após o parto, crianças de 6 meses a 2 anos de idade, profissionais de saúde, doentes crônicos e pessoas com 60 anos ou mais.
Exames indicados: Apesar de não serem comuns e realizados apenas quando o paciente manifesta sintomas, os exames mais usuais incluem o clínico, radiografia do tórax e testes complementares para a identificação do agente causador da doença, como a cultura de escarro.
Quem deve fazer: quando ocorrer manifestação de algum sintoma, após orientação médica.
Doenças do aparelho digestivo
Entre as principais causas de morte evitáveis nesta área está a Doença Hepática Alcoólica, uma lesão no fígado ligada à quantidade de álcool consumida ao longo da vida. Contudo, nem todo mundo que bebe em excesso desenvolverá a doença, assim como indivíduos que bebem moderadamente poderão sofrer com ela.
Estima-se que 35% dos alcoólatras e bebedores pesados desenvolverão o problema. A fibrose e a cirrose são consequências da doença e surgem em estágios mais avançados. Fatores genéticos que afetam o modo como o organismo processa o álcool, a presença de outras doenças hepáticas (como a hepatite C), nutrição deficiente, sexo feminino, obesidade e diabete são fatores que aumentam a predisposição. A prevenção é simples: não beber álcool ou consumi-lo moderadamente, evitar dietas “da moda”, que sobrecarregam o órgão, medicamentos anti-inflamatórios e sexo desprotegido.
Exames indicados: hemograma completo, testes de função hepática, tomografia computadorizada abdominal e ultrassonografia do fígado. Se os exames confirmarem o diagnóstico, pode ser feita ainda uma biópsia do fígado. Nunca é cedo para fazer exames como testes de hepatites virais e TGO e TGP, pela coleta de sangue.
Quem deve fazer: os exames são realizados conforme perfil do paciente, sob orientação médica.
Fonte: http://www.itatiaia.com.br/noticia/com-o-fim-do-carnaval-cresce-a-procura-por-te